4 de outubro de 2010

O bebê quer andar

Olhe pra mim. Vê? Eu não sou mais uma criança, cresci. Eu me olho no espelho e não vejo aquele garotinho que queria transformar o mundo, que subia no pé de árvore para roubar as mangas do vizinho, que riscava a parede do quarto pra sentir-se melhor, que contava as estrelas para diminuir a ansiedade, que tinha o Duddy como amigo invisível. Duddy, que saudades de você; ele me entendia, falava que tudo passa. Inclusive eu. O pijama não cabia mais em meu corpo. Os R$ 0,10 que eu pedia a titia não dá mais pra comprar dois pacotes de jujubas. A bola de vôlei hoje está murcha. Os sonhos? Cadê? Se achá-los me procurem, certo? Aquele mundo redondo de cor azul não existe mais, onde eu via meu céu, minhas estrelas, meus pássaros, o meu mar. Nem os desejos, nem os pedidos, nem nada. A única coisa que ainda resta é o coração, ele ainda pulsa por uma vida melhor sabe? Pois é, ele bate tão forte que até dói. Mas essa dor dá pra suportar, o que não dá é o que abre ainda mais as minhas feridas. Mas alguém me disse que isso iria passar, o Duddy me falou e eu acredito nele! Ele é meu amigo! Ele nunca mente, ao menos pra mim. Não sei o que é amor, não sei se existe. Não sei o que é cuidado. Seria privação? O que é proteger? Responsabilidade? Eu só quero respirar um pouco. As dúvidas ainda permanecem aqui. Que bom! Eu vou gritar se for necessário, vou fazer o que quero: chorar o que tem que ser chorado, xingar quem tem que ser xingado, amar quem tem que ser amado - caso eu aprenda - viver o que tem que ser vivido. Quando a gente cresce, a gente quer viver. Criamos asas e queremos sentir o ar roçar o nosso rosto. Queremos tanto e não podemos nada. Quase nada. O mundo tá girando rápido não é? Muito rápido por sinal. Mal dá para sentir o dia, ou as horas, ou o tempo. Meu tempo é curto. A vida é curta e nela não cabe o meu coração. Faltou o ar... Não sou mais criança, e eu quero viver a vida que é minha.

1 comentários:

Wilma Raquel disse...

Muito lindo e verdadeiro....